RAUL CAMPELO MACHADO DA SILVA
( Paraíba – Brasil )
Raul Campelo Machado » nasceu em Vila de Batalhão, atual Taperoá
( PB ), no dia 7 de abril de 1891 , filho de João Machado da Silva e de Júlia Campelo Machado . Cursou o primário e o secundário na cidade da Paraíba , atual João Pessoa , concluindo o ginásio em 1908 no Liceu Paraibano . Bacharelou-se em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito de Recife . Durante o governo de Epitácio Pessoa ( 1919-1922 ) atuou como secretário-geral da comissão organizadora do projeto de estatuto dos funcionários públicos.
Em 1936 foi nomeado pelo presidente Getúlio Vargas ( 1930-1945 ) para integrar o corpo de juízes do Tribunal de Segurança Nacional (TSN), instituído em setembro daquele ano para julgar os implicados na insurreição promovida em novembro de 1935 pelo Partido Comunista Brasileiro , então Partido Comunista do Brasil (PCB), em nome da Aliança Nacional Libertadora ( ANL ). Atuou como relator no julgamento dos principais acusados, realizado em maio de 1937 , e como juiz no sumário de culpa de Pedro Ernesto Batista , interventor federal no Distrito Federal de 1931 a 1934 e prefeito de 1934 a 1936 .
Corregedor da Justiça Militar no Distrito Federal , foi também oficial-de-gabinete da Inspetoria de Obras contra a Seca , promotor da Justiça Militar em Pernambuco , auditor de Guerra no Rio Grande do Sul , Mato Grosso e Paraná e ministro togado do Conselho Superior da Justiça Militar . Sócio do Pen Clube do Brasil , da Sociedade dos Homens de Letras do Brasil , do Instituto de Cultura Brasileira , da Federação das Academias de Letras e do Instituto do Brasil , pertenceu ainda à Société Académique d’Histoire Internationale , da França . Dedicou-se também ao jornalismo, tendo sido redator de « A União ». Faleceu em 19 de julho de 1959 , quando regressava da Europa . Era casado com Diana de Sampaio Machado .
Publicou « Cristais de bronze » (poemas, 1909 ), «Água de castália» (poemas, 1919 ), « Asas aflitas » (poemas, 1924 ), « Pelo abolicionismo da arte » ( 1925 ), « A culpa no direito penal » ( 1929 ), « Direito penal militar » ( 1930 ), « Pássaro morto » (poemas, 1933 ), « Poesias » ( 1936 ), « Dança de idéias » ( 1939 ), « Direito contra a ordem política e social» ( 1944 ), « A lâmpada azul do sonho » (poemas, 1946 ) e « Asas libertas » (poemas, 1950 ).
Biografia extraída de http://dhbb.mybluemix.net/
REZENDE, Edgar. O Brasil que os poetas cantam. 2ª ed. revista e comentada. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1958. 460 p. 15 x 23 cm. Capa dura. Ex. bibl. Antonio Miranda
PAISAGEM TROPICAL
Sertões da minha terra. Em pleno meio-dia.
Cobrem-se de oiro velho os ramos de esmeralda.
E o sol ruivo que, aceso em fúria, do alto espia,
No holocausto da seca, o amplo deserto escalda.
Toda a flora se despe e se desengrinalda,
Não mais o gado pasce onde, nédio pascia...
Nem mais se estende, ao longe, imensa e verde, falda,
A imensa, a verde-clara, aba da serrania!
E enquanto à luz, que morde, e à adustão, que aniquila,
Murcha a vegetação da comburida zona,
E a terra queima, e o céu abras, e o sol fuzila.
À sombra, enrodilhada, a cobra se abandona...
Espaneja o canário a asa de oiro... e tranquila,
Sobre as patas deitada, a onça brava ressona.
AMAZÔNIA
À Rosalina Coelho Lisboa
Ei-la, a terra feliz! Plaga divina,
De ramagens que o sol beija e não cresta!
— Bailes de borboletas, na campina!
— Saraus de pirilampos, na floresta!
E é sempre assim neste Eldorado, nesta
Região, que o olhar e o espírito fascina:
— Festa de luz... festa de ninhos... festa
De asas... cheiro de fruta e de resina!
Aqui, se porventura vos perderdes,
Vereis que tudo são cúpulas, flores;
Ramos, cipós, eternamente verdes...
Mas, entre esta verdura de folhagem,
Abre, às vezes, relâmpagos de cores,
O penacho furtivo de um selvagem!
(“A Lâmpada Azul do Sonho...”)
CÉU DO BRASIL
Praz-me ver este céu que em palpitante messe
De áureas constelações, a arder perpetuamente,
Montes, campos e mar ilumina; e os guarnece
De uma renda de luz e prata resplandente!
Céu, suspenso jardim, horto magnificente,
Que em grinaldas de sóis e de estrela floresce!
Cúpula nupcial, de onde, em floco nitente,
Como um véu de noivado, o luar diáfano desce!
Céu que incendeia o ocaso em clarões de fogueiras;
Que aos outros céus em luz e colorido excele,
Na glória das manhãs e noites brasileiras!
Céu que a alma contempla, humílima, de rastros...
Céu que é um altar em festa: — e acesa, dentro dele,
Brilha a cruz do Senhor, numa moldura de astros...
(“Poesias”)
A ENCHENTE
Que tremenda expressão de fúrias e de mágoas,
No alarmante fragor de embate formidando,
Torcendo os matagais, rugindo pelas fráguas,
Vinha a enchente, em golfões, rio abaixo, rolando!
E à atra aproximação do flagelo nefando
(Estas cenas de dor, vivas, na ideia, trago-as!)
Iam desaparecendo em ruína, a quando e quando,
Choças e povoações, sob o lençol das águas!
E o que há pouco era serra, agora é uma cachoeira!
Fez-se um mar a planície; o vale, uma represa!
O campo se fez lago! E é um rio a estrada inteira!
Vem a noite... Um clamor na escuridão se eleva
Há imprecações na voz do vento... e a correnteza
Rasga, a clarões de espua, o amplo sio da treva.
(“Poesias”)
Pau-d´arco ou Ipé roxo
[nome científico Handroanthus impetiginosus.]
PAU D´ARCO
Na serra, a fronte heril, coroada de flores de ouro,
Ereto, a linha nobre, o porte aristocrata,
o Páu-d´arco semelha um rei soberbo e louro,
De sobre o trono o olhar as províncias da mata.
Faz-lhe de manto régio, à noite, o luar de prata,
Ao meio-dia, a luz do sol imorredouro...
E lhe enche o amplo dossel da ramaria grata
O hino nacional dos pássaros em coro!
Para que seja um Rei, nada lhe falta, em suma:
Muitas léguas de terra o seu domínio abrange...
E a seus pés, noite e dia, em vigília, se apruma,
Guardando-o em calma eterna e em muda vassalagem,
— Das árvores, em roda, a sombria falange;
— Dos arbustos, em fila, o exército selvagem!
(“Poesias”)
FREIRE, Laudelino. Pequena edição dos Sonetos brasileiros. 122 sonetos e retratos. 2ª. edição augmentada. Rio de Janeiro: F. Briguet e Cia. Editores, 1929. 256 p. 12,5x16 cm. capa dura Impresso na França por Tours Imp. R. et P. Deslis. N. 06 642
Exemplar da biblioteca de ANTONIO MIRANDA
NA PRAIA
Só do acerbo pungir desta saudade cheio,
Sem ti, sem teu sorriso ameno, de luar,
Sinto uma ancia infinita, um infinito anceio,
Um desejo incontido e amargo de chorar!
E na Febre de vêr-te e apertar-te ao seu seio,
Muitas vezes até me surges ao olhar,
Como Venus surgiu, toda nua, no meio,
Das espumas em flor da agua verde do mar!
Bem vês! Não posso mais! Esta ausência me cansa!
É minh´alma a chorar quem de joelhos t´o diz!
Vem! Não tardes em vir! Apressa o passo, avança,
Vem povoar com teu riso os meus dias desertos
E deixar-me sonhar um momento, feliz,
Na alva cruz de marfim dos teus braços abertos
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Página publicada em abril de 2022
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